Nas últimas semanas, vi muitas pessoas de bom nível escolar sustentando um discurso
moralista do bem contra o mal, dos retos contra os corruptos, dos apaziguadores
contra os irresponsáveis incendiários que incitam o ódio de classes.
Neste
domingo, com o término da eleição, vi, com certo espanto e curiosidade, essas
mesmas pessoas destilarem seu ódio contra os nordestinos e todos aqueles que
votaram na candidata petista. Vi afirmações discriminatórias contra os nordestinos,
contra os pobres, e, também, pregações pela separação do Sul-Sudeste do
Nordeste. Em suma, vi o “bom mocismo” ruir.
Essas
pessoas que falam em divisão do país esquecem-se de algo básico: o país está
dividido desde seu nascimento, pois a colonização portuguesa deita raízes na
exploração/escravidão de indígenas e, sobretudo, da população de origem
africana. Não foi o PT que inventou a luta de classes. De fato, ela não é uma
invenção e nem o resultado da incitação ao ódio pelos insanos
petistas/comunistas. A luta de classes é um aspecto estrutural das sociedades
cindidas entre proprietários (dos meios de produção) e não-proprietários. Este
é um conhecimento elementar da realidade social, e não apenas entre os cientistas
sociais.
Para
aqueles que querem um país realmente mais justo, fraterno e unido, trata-se, no
imediato, de enfrentar as consequências divisionistas (reais ou ilusórias) impulsionadas
pela distribuição dos votos, manifestas nos dilemas petismo e anti-petismo, nortistas
e sulistas. Isto, porém, não basta. Os setores/movimentos/partidos de esquerda
precisam compreender melhor o país e sua dinâmica política para construir a “unidade
possível” – isto é, nucleada pelo proletariado, uma unidade entre as classes
subalternas e frações da pequena burguesia/classe média. Unidade para a luta. Unidade
para o enfrentamento desses e de nossos problemas estruturais.
Nesse
sentido, é fundamental saber que há muitos e muitos desses agentes da
transformação – ou seja, de membros das classes subalternas – que votaram em
Aécio, Alckmin, Richa etc. e, por conseguinte, estão sob a influência
política e ideológica da direita. Portanto, superando o prisma fundamentalmente
eleitoreiro e político, urge a necessidade de tratarmos e analisarmos a estruturação
das classes, suas articulações socioeconômicas e, assim, suas manifestações e
composições políticas para qualificar a intervenção e contribuir com o avanço
da consciência de classe.
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